Quando comecei a trabalhar na Rádio RH, existia um programa chamado "Ponte Aérea" que tinha o intuito de trazer pessoas que viajavam muito em prol do seu trabalho para trocar experiências com os ouvintes. Eles deveriam falar sobre o modo de trabalho de outros locais, a experiência de vida em outros lugares, os transtornos de se viajar bastante, etc. Acontece que o "Ponte Aérea" teve que ser cancelado, justamente porque os possíveis convidados estavam sempre viajando! Mas a experiência de pessoas que estão sempre viajando foi resumida muito bem no novo filme do ator George Clooney que estreia nos cinemas. "Amor Sem Escalas" fala sobre um homem que tem que viajar bastante para cumprir as tarefas do seu trabalho. Ele vive isolado de família e amigos e dá palestras de motivação sobre como ser individual. O curioso? Ele adora a vida que leva.
No filme, o personagem de Clooney, Ryan Bingham, ainda tem um trabalho nada peculiar. Ele é um executivo contratado por outras empresas para demitir pessoas. Isso mesmo. Ele tem a missão de tornar uma das piores horas da vida de uma pessoa um pouco menos ruim. Essa é só uma das críticas do filme, que tem vários pontos de comédia, mas que tem uma carga dramática muito forte. Afinal, Bingham é um homem solitário e aproveita a sua solidão. Ele gosta de estar sozinho. Com isso ele perde pontos com a família, que já está afastada o suficiente dele. Claro, estar sozinho não impede Ryan de ter os seus relacionamentos. Ele tem um caso com uma outra executiva, que viaja tanto quanto ele, e aos poucos vai estabelecendo uma relação de amizade com a sua nova "assistente", que ele é responsável por treinar.
Esses relacionamentos sem profundidade que ele leva deixa uma pergunta no ar? O ser humano é um animal sociável, então porque insistir na individualização? A vida não é mais fácil quando se está acompanhado? A principal desculpa que se ouve de pessoas individualistas é a velha conhecida "se quer algo bem feito, faça você mesmo". Porém, o "você mesmo" pode não ser o solucionador de todos os problemas. Ninguém tem a chave para resolver todos os mistérios do universo, mas eles até que podem ser resolvidos se cada um colaborar com o seu próprio conhecimento.
Nas organizações, o trabalho em equipe sempre é motivado pelos líderes, porém eles mesmos se esquecem de que fazem parte da mesma equipe tanto quanto o gerente, o supervisor, o motoboy ou o faxineiro. Para se ter um bom trabalho em equipe é preciso que um maior canal esteja aberto nas corporações, para que haja essa troca de informações. A divisão de tarefas é só o primeiro passo: o estímulo ao contato humano faz com que a cooperação seja muito maior. Em "Amor Sem Escalas", Ryan só começa a perceber a falta das pessoas na sua vida quando é obrigado a carregar uma junto com ele, no caso a sua assistente Natalie Keener. Natalie é a pessoa que incita a discussão, coloca os problemas em pauta e até apresenta as soluções. Querendo ou não, Ryan é obrigado a pensar.
E é assim que funciona o trabalho em equipe. As pessoas podem não saber fazer melhor o que nós fazemos, mas elas incitam a discussão, estimulam a solução dos problemas através do raciocínio. E sempre tem alguém que enxergou alguma coisa que você não viu. É sempre bom ver diferentes pontos de vista para aprimorar o seu trabalho. Não adianta querer carregar o mundo nas costas, mesmo que você seja o Atlas em pessoa. Até mesmo o personagem da mitologia grega reclamava da sua tarefa.
"Amor sem Escalas" tem várias outras lições que podem ser extraídas - inclusive a melhor maneira de se portar em um aeroporto. É uma comédia saudável, mas com aquele toque dramático que faz você sair do cinema pensando depois. O filme é do mesmo diretor de "Juno" e "Obrigado por Fumar", Jason Reitman, e quem já viu essas duas obras, sabe que o diretor tem um estilo único de colocar pensamentos na nossa cabeça.
(Up In The Air)
Dir.: Jason Reitman
Elenco: George Clooney, Vera Farmiga, Anna Kendrick, Jason Bateman, J.K. Simmons e Danny McBride.
Duração: 109 minutos
EM CARTAZ NOS CINEMAS
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