21 de junho de 2010

Apartheid é vontade de Deus e não questionamos Deus!

Por ALine Souza

@souzaline



Em épocas de COPA do Mundo na África do Sul não há como não pensar na grande referência política e humana do país. É claro que estamos falando de Nelson Mandela, um grande líder que nunca se esqueceu de seus valores pelos quais lutou toda uma vida, sacrificando-se em muito! Para recordar o líder lançamos mão do filme Goodbye Bafana, 2007 de Bille August. Nesse título, cujo roteiro é baseado em livro de Bob Graham e James Gregory, temos um apanhado do que era o período histórico do Apartheid, que teve início em 1948 implantado pelo Partido Nacional na África do Sul, e que determinava que os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver separados dos brancos, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros cidadãos. Este regime foi abolido por Frederik de Klerk em 1990 e, finalmente, em 1994 eleições livres foram realizadas e Mandela foi eleito presidente do país até 1999.

A base da história se passa na missão que recebe o policial James Gregory, vivido pelo ator Joseph Fiennes, de ser o responsável pela censura imposta aos prisioneiros negros e políticos em finais de 1968, ano que o mundo ferveu no calor de diversas manifestações populares e rebeliões em vários continentes. O policial, por falar a língua natural africana, origem de sua antiga amizade com uma criança negra, é o escolhido para ficar de olhos bem abertos em nada mais nada menos que Nelson Mandela, vivido pelo ator Dennis Haysbert, que nessa época já era um preso muito importante e que não poderia simplesmente ser morto pelo regime, sob o perigo de ele se tornar um mártir.


Nelson é ícone de uma era onde prevaleciam pensamentos obscuros de uma burguesia branca, no qual os negros são terroristas que querem matar os brancos e lhes roubar a terra; mesmo em se tratando de uma África ocupada e colonizada onde as terras foram confiscadas de seus donos originais. Percebemos também uma conduta de James Gregory de agradar aos chefes oficiais para ser promovido, quando ainda é instaurada a política da subserviência. Tal conduta, muitas vezes pode ser vista como bajulação barata e sem propósito. Numa empresa, o que poderia ser visto com bons olhos pelos gestores, pode causar antipatia. Ao contrario, vemos em Mandela uma preocupação séria e consciente de falar o pensa e como pensam o seu povo de maneira ponderada, certos de sua razão, com verdade nos olhos.

O grande líder Nelson Mandela também nos mostra no filme como ter uma reação correta diante de atitudes de corrupção. Usando de autonomia para saber o seu lugar, ele utiliza a falha do regime contra ele próprio, indicando publicamente a tentativa de quebrar as regras para atingi-lo psicologicamente. A grande lição que fica é que com atitudes honestas e honradas convencemos a todos de nosso ponto de vista! Até mesmo quando o policial está mentindo ter autorização superior para conseguir ler a Carta da Liberdade, escrita no Congresso Nacional Africano (CNA) como um documento antiapartheid e proibido, sua convicção e certeza do objetivo maior convencem seus interlocutores.


Já em 1976, Gregory parece perceber que há coisas mais importantes do que uma promoção. Mandela continua preso e sendo arma de barganha política, apesar de estar firme com suas convicções nacionalistas e libertárias. Em 1982 ele diz que a África do Sul precisa de jovens preparados para serem grande líderes, pois ele mesmo está envelhecendo. Sanções internacionais são impostas ao país para que o libertem após 18 anos de cárcere. O bairro de Soweeto é o mais combativo e representativo nessa luta pela liberdade do líder e Mandela se pergunta na prisão se parar com a luta armada é de fato garantia de justiça e de paz por parte dos governantes. “Se quem tem o poder nega a sua liberdade, então o único caminho é o poder”, disse. Não o libertam porque isso significaria dar poder ao povo, o que é inadmissível até mesmo nos dias de hoje!

No total foram 27 anos atrás das grades e infinitos anos sofrendo a tentativa de desmoralização pública e a separação da família, sem poder ver os filhos crescer, terem seus filhos. Somos agraciados com a conduta de sensibilidade e força de Mandela. Liberto em 1990, o policial Gregory se torna tenente, o que aprofunda sua percepção de que o que vale de fato na vida é o que levamos das pessoas o fruto de nosso aprendizado. A verdade é o que vale e na busca dela podemos realizar o nosso trabalho, seja ele qual for.